Ozempic, GLP-1 e emagrecimento

Ozempic, GLP-1 e emagrecimento

Nos últimos anos, o nome Ozempic se tornou recorrente em redes sociais, consultórios médicos e até rodas de conversa. Originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, o medicamento à base de semaglutida, um análogo do GLP-1, passou a ser amplamente utilizado com foco no emagrecimento.

Essa popularização trouxe inúmeros debates éticos, clínicos e sociais  e colocou os profissionais de saúde, especialmente os nutricionistas, no centro da discussão. Afinal, o uso dessas substâncias impacta diretamente a relação do paciente com a alimentação, o metabolismo e o planejamento nutricional.

Neste conteúdo, vamos abordar o que é o GLP-1, como atuam medicamentos como o Ozempic, quais são os efeitos esperados, os cuidados necessários e, principalmente, o que o profissional de Nutrição deve considerar ao acompanhar pacientes em uso dessas terapias.

O que é GLP-1 e como ele atua no corpo?

GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é um hormônio gastrointestinal produzido naturalmente pelo intestino em resposta à ingestão de alimentos. Ele exerce múltiplas funções no organismo:

  • Estimula a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas;
  • Inibe a liberação de glucagon (hormônio que eleva a glicemia);
  • Retarda o esvaziamento gástrico;
  • Promove saciedade ao atuar no sistema nervoso central.

Esses efeitos combinados tornam o GLP-1 uma molécula extremamente interessante tanto para o controle da glicemia quanto para o controle do apetite e do peso corporal.

Com o avanço da biotecnologia, foram desenvolvidos análogos sintéticos do GLP-1 como a semaglutida (princípio ativo do Ozempic e Wegovy) que prolongam esses efeitos, podendo ser aplicados semanalmente por via subcutânea.

Ozempic e semaglutida: tratamento do diabetes ao uso para emagrecimento

O Ozempic é um medicamento aprovado pela Anvisa para o tratamento do diabetes tipo 2, com efeito secundário de perda de peso. 

No entanto, seu uso off-label para emagrecimento em pessoas não diabéticas cresceu rapidamente, impulsionado por influenciadores, resultados rápidos e promessas de controle do apetite.

Posteriormente, a mesma molécula (semaglutida) foi registrada com o nome Wegovy, agora com aprovação específica para o tratamento da obesidade.

Por que provoca perda de peso?

O principal mecanismo que explica o emagrecimento com o uso de GLP-1 está na redução do apetite e do esvaziamento gástrico, o que leva a uma ingestão calórica naturalmente menor. 

Ademais, há melhora na sensibilidade à insulina e no controle glicêmico, o que favorece o metabolismo energético.

Estudos clínicos demonstraram perdas de peso significativas, variando entre 10% e 20% do peso corporal, dependendo da dose e da duração do uso.

O que a Nutrição precisa considerar nesse cenário?

Com o crescimento do uso de GLP-1 para fins de emagrecimento, os nutricionistas se deparam com novos desafios clínicos, éticos e comportamentais. 

A atuação responsável e estratégica do profissional de Nutrição é fundamental para garantir segurança, resultados sustentáveis e reeducação alimentar.

Adesão alimentar e mudanças no comportamento alimentar

Muitos pacientes relatam redução drástica da fome, enjoo ao consumir certos alimentos e desinteresse por refeições completas. Isso pode parecer vantajoso, mas acende um alerta: a qualidade da alimentação tende a piorar se não houver orientação adequada.

O nutricionista deve acompanhar de perto a ingestão proteica, de micronutrientes e fibras, prevenindo deficiências e garantindo que a perda de peso não ocorra às custas de massa muscular.

Ademais, o risco de relação disfuncional com a comida pode aumentar. É preciso diferenciar quando a saciedade é fisiológica e quando há rejeição alimentar, associada a comportamentos de fuga, medo de engordar ou dependência do medicamento.

Preservação da massa magra

A redução de apetite pode comprometer a ingestão proteica, o que afeta diretamente a manutenção da massa magra durante o processo de emagrecimento.

O nutricionista deve reforçar a prioridade da proteína nas refeições, fracionar adequadamente os alimentos ao longo do dia e, se necessário, prescrever suplementação nutricional individualizada.

A perda de massa muscular é um dos principais fatores associados ao efeito sanfona, piora da composição corporal e fragilidade metabólica no longo prazo.

Educação nutricional durante o uso do medicamento

A semaglutida pode ajudar na perda de peso, mas não ensina o paciente a comer melhor. Por isso, o papel da Nutrição vai muito além do cardápio: é necessário aproveitar o período de uso do GLP-1 para reconstruir hábitos alimentares, promover autonomia e desenvolver consciência alimentar. O foco deve ser em:

  • Qualidade dos alimentos;
  • Planejamento alimentar realista;
  • Estratégias de saciedade com alimentos naturais;
  • Reeducação alimentar progressiva.

O objetivo é que, mesmo após a retirada do medicamento, o paciente consiga manter os novos hábitos e o peso conquistado.

Possíveis efeitos colaterais

Ozempic


O uso de Ozempic e medicamentos semelhantes pode causar efeitos colaterais como:

  • Náuseas e vômitos;
  • Constipação ou diarreia;
  • Sensação de estufamento;
  • Dor abdominal;
  • Alterações no paladar.

Esses efeitos afetam diretamente o consumo alimentar e, muitas vezes, levam o paciente a pular refeições ou evitar alimentos importantes.

O acompanhamento nutricional deve ajudar a ajustar a dieta para minimizar esses sintomas, mantendo o equilíbrio nutricional e a adesão ao tratamento. 

Estratégias como fracionamento das refeições, escolha de alimentos com boa digestibilidade e introdução gradual de fibras podem fazer grande diferença.

O risco da automedicação e da medicalização da estética

Um dos maiores riscos atuais em torno do uso de GLP-1 é o uso indiscriminado, sem acompanhamento médico ou nutricional, muitas vezes movido pela busca por emagrecimento rápido e idealizações estéticas irreais.

A automedicação com Ozempic pode levar a sérias consequências, incluindo:

  • Efeitos colaterais graves não monitorados;
  • Uso por pessoas sem indicação clínica;
  • Recuperação do peso após a interrupção;
  • Dependência psicológica da medicação;
  • Falta de mudanças reais no estilo de vida.

O nutricionista, junto com a equipe multiprofissional, tem o papel de orientar, esclarecer e oferecer alternativas sustentáveis, respeitando a individualidade, o histórico de saúde e os objetivos reais de cada paciente.

A Nutrição no centro do cuidado multidisciplinar

A gestão da obesidade e do emagrecimento saudável requer uma atuação integrada entre médico, nutricionista, psicólogo e educador físico. Dentro dessa equipe, o nutricionista é o profissional mais capacitado para:

  • Avaliar a composição corporal;
  • Planejar uma dieta equilibrada e individualizada;
  • Acompanhar o comportamento alimentar;
  • Prevenir deficiências nutricionais;
  • Monitorar a evolução com base em dados concretos.

No caso do uso de GLP-1, essa atuação é ainda mais importante, pois o medicamento não atua sobre a qualidade da alimentação nem sobre os fatores emocionais envolvidos no comer.

Além da balança, saúde e consciência alimentar

Medicamentos como o Ozempic e outros análogos do GLP-1 representam avanços importantes na ciência e no tratamento da obesidade. 

Mas, como toda intervenção, precisam ser usados com responsabilidade, critério e acompanhamento adequado.

Na Nutrição, o papel do profissional não é julgar ou condenar o uso do medicamento, mas acolher o paciente, orientar com ética e construir um plano alimentar individualizado e sustentável. 

Na Undb, formamos profissionais prontos para enfrentar os novos desafios da nutrição com responsabilidade e conhecimento científico. Você está preparado para essa nova realidade?

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