Nos últimos anos, o nome Ozempic se tornou recorrente em redes sociais, consultórios médicos e até rodas de conversa. Originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, o medicamento à base de semaglutida, um análogo do GLP-1, passou a ser amplamente utilizado com foco no emagrecimento.
Essa popularização trouxe inúmeros debates éticos, clínicos e sociais e colocou os profissionais de saúde, especialmente os nutricionistas, no centro da discussão. Afinal, o uso dessas substâncias impacta diretamente a relação do paciente com a alimentação, o metabolismo e o planejamento nutricional.
📩 Quer saber mais sobre a UNDB e conhecer nossas condições especiais de ingresso?
Deixe seu contato para ficar por dentro de todas as novidades.
📥 Quero saber maisNeste conteúdo, vamos abordar o que é o GLP-1, como atuam medicamentos como o Ozempic, quais são os efeitos esperados, os cuidados necessários e, principalmente, o que o profissional de Nutrição deve considerar ao acompanhar pacientes em uso dessas terapias.
O que é GLP-1 e como ele atua no corpo?
GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é um hormônio gastrointestinal produzido naturalmente pelo intestino em resposta à ingestão de alimentos. Ele exerce múltiplas funções no organismo:
- Estimula a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas;
- Inibe a liberação de glucagon (hormônio que eleva a glicemia);
- Retarda o esvaziamento gástrico;
- Promove saciedade ao atuar no sistema nervoso central.
Esses efeitos combinados tornam o GLP-1 uma molécula extremamente interessante tanto para o controle da glicemia quanto para o controle do apetite e do peso corporal.
Com o avanço da biotecnologia, foram desenvolvidos análogos sintéticos do GLP-1 como a semaglutida (princípio ativo do Ozempic e Wegovy) que prolongam esses efeitos, podendo ser aplicados semanalmente por via subcutânea.
Ozempic e semaglutida: tratamento do diabetes ao uso para emagrecimento
O Ozempic é um medicamento aprovado pela Anvisa para o tratamento do diabetes tipo 2, com efeito secundário de perda de peso.
No entanto, seu uso off-label para emagrecimento em pessoas não diabéticas cresceu rapidamente, impulsionado por influenciadores, resultados rápidos e promessas de controle do apetite.
Posteriormente, a mesma molécula (semaglutida) foi registrada com o nome Wegovy, agora com aprovação específica para o tratamento da obesidade.
Por que provoca perda de peso?
O principal mecanismo que explica o emagrecimento com o uso de GLP-1 está na redução do apetite e do esvaziamento gástrico, o que leva a uma ingestão calórica naturalmente menor.
Ademais, há melhora na sensibilidade à insulina e no controle glicêmico, o que favorece o metabolismo energético.
Estudos clínicos demonstraram perdas de peso significativas, variando entre 10% e 20% do peso corporal, dependendo da dose e da duração do uso.
O que a Nutrição precisa considerar nesse cenário?
Com o crescimento do uso de GLP-1 para fins de emagrecimento, os nutricionistas se deparam com novos desafios clínicos, éticos e comportamentais.
A atuação responsável e estratégica do profissional de Nutrição é fundamental para garantir segurança, resultados sustentáveis e reeducação alimentar.
Adesão alimentar e mudanças no comportamento alimentar
Muitos pacientes relatam redução drástica da fome, enjoo ao consumir certos alimentos e desinteresse por refeições completas. Isso pode parecer vantajoso, mas acende um alerta: a qualidade da alimentação tende a piorar se não houver orientação adequada.
O nutricionista deve acompanhar de perto a ingestão proteica, de micronutrientes e fibras, prevenindo deficiências e garantindo que a perda de peso não ocorra às custas de massa muscular.
Ademais, o risco de relação disfuncional com a comida pode aumentar. É preciso diferenciar quando a saciedade é fisiológica e quando há rejeição alimentar, associada a comportamentos de fuga, medo de engordar ou dependência do medicamento.
Preservação da massa magra
A redução de apetite pode comprometer a ingestão proteica, o que afeta diretamente a manutenção da massa magra durante o processo de emagrecimento.
O nutricionista deve reforçar a prioridade da proteína nas refeições, fracionar adequadamente os alimentos ao longo do dia e, se necessário, prescrever suplementação nutricional individualizada.
A perda de massa muscular é um dos principais fatores associados ao efeito sanfona, piora da composição corporal e fragilidade metabólica no longo prazo.
Educação nutricional durante o uso do medicamento
A semaglutida pode ajudar na perda de peso, mas não ensina o paciente a comer melhor. Por isso, o papel da Nutrição vai muito além do cardápio: é necessário aproveitar o período de uso do GLP-1 para reconstruir hábitos alimentares, promover autonomia e desenvolver consciência alimentar. O foco deve ser em:
- Qualidade dos alimentos;
- Planejamento alimentar realista;
- Estratégias de saciedade com alimentos naturais;
- Reeducação alimentar progressiva.
O objetivo é que, mesmo após a retirada do medicamento, o paciente consiga manter os novos hábitos e o peso conquistado.
Possíveis efeitos colaterais
O uso de Ozempic e medicamentos semelhantes pode causar efeitos colaterais como:
- Náuseas e vômitos;
- Constipação ou diarreia;
- Sensação de estufamento;
- Dor abdominal;
- Alterações no paladar.
Esses efeitos afetam diretamente o consumo alimentar e, muitas vezes, levam o paciente a pular refeições ou evitar alimentos importantes.
O acompanhamento nutricional deve ajudar a ajustar a dieta para minimizar esses sintomas, mantendo o equilíbrio nutricional e a adesão ao tratamento.
Estratégias como fracionamento das refeições, escolha de alimentos com boa digestibilidade e introdução gradual de fibras podem fazer grande diferença.
O risco da automedicação e da medicalização da estética
Um dos maiores riscos atuais em torno do uso de GLP-1 é o uso indiscriminado, sem acompanhamento médico ou nutricional, muitas vezes movido pela busca por emagrecimento rápido e idealizações estéticas irreais.
A automedicação com Ozempic pode levar a sérias consequências, incluindo:
- Efeitos colaterais graves não monitorados;
- Uso por pessoas sem indicação clínica;
- Recuperação do peso após a interrupção;
- Dependência psicológica da medicação;
- Falta de mudanças reais no estilo de vida.
O nutricionista, junto com a equipe multiprofissional, tem o papel de orientar, esclarecer e oferecer alternativas sustentáveis, respeitando a individualidade, o histórico de saúde e os objetivos reais de cada paciente.
A Nutrição no centro do cuidado multidisciplinar
A gestão da obesidade e do emagrecimento saudável requer uma atuação integrada entre médico, nutricionista, psicólogo e educador físico. Dentro dessa equipe, o nutricionista é o profissional mais capacitado para:
- Avaliar a composição corporal;
- Planejar uma dieta equilibrada e individualizada;
- Acompanhar o comportamento alimentar;
- Prevenir deficiências nutricionais;
- Monitorar a evolução com base em dados concretos.
No caso do uso de GLP-1, essa atuação é ainda mais importante, pois o medicamento não atua sobre a qualidade da alimentação nem sobre os fatores emocionais envolvidos no comer.
Além da balança, saúde e consciência alimentar
Medicamentos como o Ozempic e outros análogos do GLP-1 representam avanços importantes na ciência e no tratamento da obesidade.
Mas, como toda intervenção, precisam ser usados com responsabilidade, critério e acompanhamento adequado.
Na Nutrição, o papel do profissional não é julgar ou condenar o uso do medicamento, mas acolher o paciente, orientar com ética e construir um plano alimentar individualizado e sustentável.
Na Undb, formamos profissionais prontos para enfrentar os novos desafios da nutrição com responsabilidade e conhecimento científico. Você está preparado para essa nova realidade?